quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Oposições

A contra-mão do mundo, o caminho reverso.
O que causa a felicidade da massa proporciona desconfiança.
As gargalhadas versus o descontentamento.
A euforia descontrolada contra a quietude equilibrada.
Os gritos fantasmagóricos pela boca fechada.
O ruído constante pelo silêncio.

A facilidade perante o trabalho criativo e raciocinado.
O iPad em oposição ao livro usado amarelado.
Os energéticos da hora dão lugar ao cafézinho passado.
Sai os chats virtuais para triunfo do diálogo vivo.
Computadores de mão tentam engolir cadernetas e lápis.
O carro do ano deixa arcaica a caminhada.

Tudo quero quando nem tudo preciso.
Tudo posso mas nem tudo é bom.
O poder pelo poder, não importa o porquê.
Dinheiro, estabilidade X Momentos, saudades.
O virtual esconde o tempo e o vento.
Tudo é sexo, prazer, lascividade.

Desvirtua-se o que é bom e legítimo.
Pela exaltação do novo e da vaidade.



quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O canto do vadio

É o fim, é o fim, é o fim
Desde duas gerações da família
Era consenso unânime, conciso
Estava acabado desde quando
Se acabou e todos puderam ver.

Caminhava junto a rua, sobre a calçada
Fingia cambalear, mas dançava sóbrio
Destruía brinquedos que caiam das sacadas
Deixava as crianças olharem, maldoso
Roçar a cara do urso no poste de luz

Deixava pendurado o chapéu e a conta
Saia deixando fedor e desconfiança
Jamais voltariam a ver os dobrões fiados
Nem os braços todos suados
De tanto vaguear sem trabalhar.

Se agitava nos verões de alto brilho
Se dobrava nas brisas invernas
Perdia estações entre os copos
Das bebidas que lhe pagavam por medo
De libertar sua feiúra violenta da alma.

Era a razão dos infortúnios do nome que carregava
Promovia a desordem nas reuniões tediosas de terça
Foi notícia breve e perigosa nas quedas de folhas outonais
Desabou de fome ou frio em alguma madrugada soturna
Esqueceu que nem vadio vive sozinho sem a morte rondar.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Borboletas e pedras

Desde o sempre existem as pedras. Elas nunca variaram muito o significado para nós. São simples, enormes ou ínfimas, causam desgraças e dores. Desde o sempre as pedras fazem parte do ordinário viver, das mais incongruentes experiências, não dependem de nada, só dos ambientes que vivem e da gravidade, seja em qualquer sentido.
Hoje vi uma borboleta que tombou e se dissimulou, perdeu o equilíbrio e partiu sem dar explicações. Desviou dos muros de chapisco, dos raios solares que queimam e das rosas que espetam. Correu das maiores ameaças e morreu pelo soprar do vento. Se esqueceu de voar e foi levada, sem rumo nem autoridade ao destino imprevisível que abrange a todos que ficam a mercê da brisa que antecede a tempestade.
Foi ao buscar o livro na estante da sala que pude ver o temporal. A árvore se dobrava em reverência ao poder exalado daquela manifestação. Sinais por todo o entardecer. Folhas que alçavam voos incríveis, pingos de chuva gelada que ultrapassavam os bloqueios que insistimos em construir. Fiz de bobo quando um raio riscou minha visão, e terminou como grande batucada de deuses insatisfeitos com os rumos da filosofia.
Naquela tarde eu entendia o mundo, e o mundo me insultava sem entender. Corri para tirar as roupas que secas, molhavam. Já não chovia mas quis enfim terminar um objetivo. Deixei fora de casa os sapatos velhos, com a sola exposta e o cadarço empoeirado.
Entre as pedras que rolavam, as borboletas que sumiam e a chuva que castigava fiquei lembrando de quando tudo isso era sonho, e de quando eu via as luzes acesas na madrugada, pensando em falar qualquer besteira para o papel mudo. Me arrependi das falas que decorei e fui esquentar o leite e deixar que a madrugada, úmida e confusa, me observasse.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Dialogando sobre o sono com Montaigne

*em itálico as passagens do filósofo francês retiradas de seus Ensaios.

Mistura de quietude e movimento. Paramos, não vemos e ignoramos. A mente funciona como uma indústria noturna, com nossas linhas de produção cerebral a pleno vapor. É isso, ambiguidade muda, silêncio onde nada para.
Por vezes os grandes personagens em seus mais importantes empreendimentos se conservam tão serenos que nem sequer perdem o sono.
Um estágio altamente necessário ao ser que insiste pensar. Coloca-se fatigado pelo estado de cansaço do plano físico e de alma, envolto de mistérios de por onde vamos e como retornamos, talvez sem tantos mistérios para os estudiosos, mas pouco se pode saber do caminho individual do ser.
No dia da batalha que travou contra Dario, Alexandre, o Grande, dormiu tão profundamente e até já manhã alta, que, em sendo quase hora de combater. Parmênion foi obrigado a entrar-lhe no quarto a fim de acordá-lo.
As tribulações que nos mantém acesos se tornam um fardo muito mais pesado quando desaliviado pela ausência do desligamento nosso. É essencial quer deixemos de existir conscientemente por certo período.
Cabe aos médicos dizer-nos se o sono é tão necessário ao homem que sua vida dele dependa. Em apoio dessa asserção temos em Roma o caso de Perseu, rei da Macedônia, que fizeram morrer impedindo-o de dormir.
Pode-se aferir simbolicamente que desde que o universo assim existe o sono é típico das horas de trevas, sem luz, sem visão. O escuro do ambiente que cerca-nos se equivale ao escuro total do fechamento das pálpebras, cansadas de enxergar e ávidas pelo cessar momentâneo da mente. Mas nunca estamos de fato na completa escuridão.
Plínio relata casos de pessoas que viveram durante muito tempo sem dormir. Heródoto fala de povos que dormem a metade do ano e velam os outros seis meses. E os biógrafos de Epimênides contam que esse sábio dormiu durante cinquenta e sete anos seguidos.
Melhor do que dormir é estar plenamente convicto de suas ações e bêbedo pelo sono que consome.


sábado, 12 de outubro de 2013

Nós precisamos disto?

Uzupis, 1959. Antanas Sutkus


“O dia a dia é algo entediante [...] é universal, ele não se sujeita a ninguém [...] Frequentemente, o homem moderno não tem tempo para o dia a dia. Quando vemos a neve pela manhã, praguejamo-la por causar dificuldades nas estradas, mas nos esquecemos que a neve é branca e macia [...] Os supermercados tomaram os lugares das igrejas e dos museus. O lema principal é ‘trabalhar, comprar e morrer!’. Tal dia a dia também existe, e este é o modo injustiçado de vida. O dia a dia se perdeu entre chamadas telefônicas, reuniões importantes, informação eletrônica e escândalos políticos. Eu preciso disto?”.


Essa frase é do fotógrafo lituano Antanas Sutkus. Tive o privilégio de ir ver uma exposição de suas fotos no Museu Oscar Niemeyer em Curitiba, e além de imagens belíssimas essa frase me chamou bastante atenção. Na verdade ela não saiu da minha mente por muito tempo, quem sabe até os dias de hoje.
Tenho absoluta certeza de que não vou conseguir expressar exatamente o que desejo, mas, tentarei assim mesmo.
O que nos regula hoje são horários, prazos. Horário de ônibus, de metrô. Temos tempo estipulado para almoço, com hora para a saída e para o retorno, e você precisa ir esteja ou não com fome e retornar, esteja ou não disposto.
Prédios em ruínas, casas desabando, lugares cheios de coisas pra nos dizer são colocados ao chão para que alguma nova obra seja erguida, em prol da modernidade. Prédios com 300 apartamentos, guardando 300 famílias em gaiolas em terrenos onde antes jazia uma casa grande, de quintal denso, e crianças brincavam de floresta mágica.
A vida realmente se resume em trabalhar, comprar e morrer. Quando você se desvia desse rumo é chamado de louco, de inconsequente. Viver sem computador do ano, sem telefone que é também GPS, leitor de livro, reprodutor de vídeo hoje é um risco. Nossos pais sobreviveram sem isso, e foram felizes, muitos se mantém saudáveis virando a cara para tanta coisa necessariamente inútil.
Nos faz falta a simplicidade de um caderno de receitas todo escrito a mão, de recados na geladeira, de carregar um livro pesado pra onde formos, de crianças modelando massinhas ao invés de mouses.
Estamos todos cansados de tanta informação. Não existe necessidade de sabermos tudo. A felicidade se condiciona a detalhes tão menores do que saber tanto a todo tempo. Parece que nos esquecemos de que essa vida que temos não é infinita.
Que a estabilidade financeira seja apenas um padrão onde possamos viver nesse mundo tão predador. Que conforto signifique coração livre e sucesso seja sinônimo de fazer pessoas a nossa volta felizes. Que se propague o amor e a bondade.




quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Vida e vida de um vivo funcional

"Gostaria de conhecer a cidade." - disse a prima Evelin, quando se aconchegou no sofá do 15° andar do Kentucky Building. Charles, que não tinha vontade alguma de se deslocar pela cansativa metrópole, tentou convencer a esposa Anna a cumprir o pedido. Em vão, pois ela já havia marcado uma reunião com dois representantes de uma franquia de relógios. Sem argumento, vestiu uma blusa e colocou os sapatos antes de indicar o caminho do elevador a Evelin que os levaria até o estacionamento.
Mal haviam deixado a garagem do condomínio quando Charles questionou sobre onde ela gostaria de ir. De surpresa, a moça pediu que ele parasse o carro imediatamente para que pudesse conhecer uma adega que viu pela janela. Dentro do local, que tinha cheiro de madeira velha, ela expressou vontade de beber uma taça de vinho. Sentaram-se nos banquinhos apertados e brilhantes do verniz semi seco e seu pedido chegaria em instantes. Uma taça de moscatel grego bem doce acompanhada de fatias de laranja e pedaços de cravos espalhados pelo pequeno prato. Quinze minutos se passaram até o último gole. Voltaram ao carro.
Enquanto Charles explicava que seus dias de folga eram raros e que geralmente os passava dormindo, Evelin, que não ouvia de verdade o que ele dizia, pediu para descer em frente a uma igreja velha. A porta altíssima branca e danificada pelo tempo estava entreaberta. O homem aguardou no carro enquanto a jovem desbravou o templo. Lá dentro, ficara sabendo que se tratava de uma construção de 1810 e ficou impressionada com a beleza da arquitetura. Quando questionou o primo sobre as vezes que ele já estivera ali, ouviu um "nunca" prosseguido de uma risada sarcástica.
Na parte velha do centro, desceram do carro e se puseram a andar, com diferenças notáveis no entusiasmo. Evelin entrou em uma loja de doces e comprou uma maça do amor coberta de confeitos coloridos. Sua boca parecia um arco-íris de tão suja pelos corantes divertidos.
Comprou um quadro de um viajante. Uma paisagem rural, crianças brincando e ao fundo um mundo todo em verde-escuro. Na livraria pediu postais da cidade para saber onde mais deveria ir. 
Enquanto seus olhos giravam pela calçada á procura de novidades, Charles olhava o relógio apreensivo, sem hora marcada para nada. Por um instante apenas parou e se perguntou porque não conhecia nada daquelas coisas que tinha visto naquela tarde. Era mesmo porque ele não queria. Nem teve tempo de raciocinar sobre sua vida, pois Evelin já o havia convocado para um museu e uma loja de antiguidades. 
Ela estava viva. Ele também, apesar de ninguém, nem sequer ele mesmo notar.

domingo, 29 de setembro de 2013

O conforto do meu lugar

Já vem chegando o tempo em que os pinheiros vão tombando em todos os lugares. As crianças da aldeia vão fazer guerra para conquistar alguns.
São 6:09 da manhã e escutaremos o riacho do passado rugir. Enquanto isso o padre Lee prepara o sermão a ser proferido aos mansos fiéis na próxima semana.
Ontem encontrei vovó pra baixo das lojas e percebi que ela está muito bem para uma senhora de 84 anos. Ao me ver ela perguntou de novo se algum dia vou consertar seu celeiro. Pobre velha garota, que precisa de uma mão para ajudar a manter as coisas na fazenda.
O conforto desse meu lugar bom e velho jaze nos meus ossos, e é o som mais doce que meus ouvidos jamais conheceram. Nada além de um sentimento deveras antiquado e totalmente maduro. O conforto do meu lugar é como carona em caminhão voltando para casa.
Um pouco abaixo do poço eles tem agora uma nova máquina. O capataz disse que ela faz cortes por quinze homens. Tudo bem, mas isso não é bem algo tão natural, diria o velho Clay. Vocês verão que ele é uma silhueta de um forte cavalo até o dia de sua morte.
Agora vejo o velho e gordo ganso voando entre os galhos. Ouriços são feitos de barros e estão entre os tijolos. Escuto daqui o ranger da cadeira de balanço na varanda. E por toda a extensão do vale caminha o pastor com sua tocha em punho.
São flashes de uma vida confortável, ociosa e interiorana de calmaria.

Texto baseado na canção "Country Comfort" de Elton John,

terça-feira, 17 de setembro de 2013

As janelas

Por detrás das janelas sempre há vida olhando pra vidas ou para o nada. Este era um trecho bem interessante que tinha lido em um livro emprestado na biblioteca. E onde toda rotina como de qualquer pessoa convencional começa, em uma manhã.
Desperta os tiques do relógio velho que encerra o sono leve, e abre-se os olhos para um inquestionável inédito dia. Senta, reclama, e abre a janela. Nem sol, nem perspectiva de ver água jorrar das nuvens. Se apronta e se vai. Na sala do trabalho já sabe que o sol incomoda quando reflete nas vidraças do edifício da frente, e deixa a fresta de sempre para entrar o ar e os sons esbaforidos dos carros que se engolem lá fora.
Restaurante, meio dia, fome. Janelas de madeira (que sonha ter em casa um dia) ficam abertas para poder ver as pessoas passando para lá e para cá. Bloco na mesa, mancha de molho do macarrão que caiu sobre o lembrete de ter que devolver o livro ainda hoje.
Volta e trabalha, para e se despede. Vai ao banheiro onde um projeto de janela se dispõe no alto, e do outro lado o fosso do elevador. Depois do medo, vai.
Taxi. Janelas fechadas, começa a chover.
Na biblioteca sempre promete devolver e não pegar outro livro pois precisa estudar para as provas do bimestre. Sempre falha. No corredor de contos estrangeiros tomba a cabeça para olhar os títulos. Pega um, abre, e lê:
" Foi quando Henry se despediu de verdade, ao olhar pelos vidros traseiros do carro enquanto sua mãe acenava triste e orgulhosa da janela, sabendo que o filho agora veria o mundo."
Olhou para a janela enorme que findava o corredor e viu a chuva cair e as gotas correrem pelo vidro. As imagens distorcidas pela água lhe fascinavam.
Levou o livro.
Resolveu faltar as aulas para ler.
Em casa chegou e se entregou ao sofá, lendo sobre o menino que desertava da humildade de sua família rumo aos desatinos do mundo. Leu, releu e adormeceu. Depois acordou, preparou chá e foi para o quarto telefonar. Ninguém atendeu.
Abre a janela sobre a cama, sente o vento frio cortar e fecha de novo.
De repente cerrou os olhos e abriu novamente. Os olhos são as nossas janelas, pensou.
E com todas janelas fechadas se desligou, com as cortinas negras escondendo por horas o que vai nos obrigar a ver ao nascer do sol.

domingo, 15 de setembro de 2013

Os sinos

Quando começa a semana é sempre assim. Tchau pai e tchau mãe, lancheira e manhã fresquinha. Sobe morro de pedra e vai no pomar, na mesma árvore, antes que alguém veja. A amiga já espera ali, pra contar que o namorado da irmã é feio, que os pais brigaram e que o avô não tá legal. Na árvore de trás dois meninos dão risada das conversas rosas das meninas enquanto trocam as figurinhas repetidas.
Hora de entrar. Vai marchando, correndo, andando e tropeçando. As monitoras vigiam em vão o doce e tenso entrar das crianças, ao som de shhhius e silêeencios.
Todos para o pátio, já sabem porquê.
Formando fila já, um braço de distância do colega da frente e postura. A postura é muito importante.
Todos se calam (ainda falando) enquanto a diretora discursa pra ninguém ouvir. O mesmo tédio das palavras da madame está nos ânimos dos pequenos, aquela vontade de ver tudo passar rápido e ir pra casa ver desenho e brincar.
Hora do hino.
Cada um com seu papel na mão, menos os mais espertos que já decoraram, os orgulhos da diretora.

"Que a pátria siga viva...
A esperança nas montanhas...
De lutar por nossa gente...
Ouvimos os tambores soarem..."

Eram tantos hinos que todos se misturavam. Tinha hino pra tudo. Pra pátria, pra bandeira, pros índios, pros marinheiros. Acaba o momento que era pra ser solene e volta a rotina da inquietude.
Não se pode controlar totalmente quem não tem total controle, que se guia por instintos limpos e vontades acima do esperado socialmente. Podem ter a melhor educação no lar, mas não se transformam em outra coisa a não ser na mesma criança que tanto é feliz e deseja na mesma proporção deixar de ser. Depois nos lembramos dos hinos e papos quando o que mais temos é saudade de ser o que já fomos.
Os sinos? Ainda posso escutá-los aqui me avisando que tinha que ir pra casa, e que a vida passa.


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A laranja e o morro

Quando todas emoções da noite já haviam prometido uma trégua eis que surge a tentação no caminho, a vontade iminente, o impulso necessário a toda forma de sedentarismo. A ladeira já facilita o trajeto, basta flexionar os cansados joelhos e desviar das calçadas inexistentes. 
Depois da quadra da rua que passa o caminhão do lixo, árvores frutíferas se estabelecem no acostamento, e como manda a natureza, depois de maduras seus frutos caem como gotas de tinta no asfalto cinza. Um, dois, sete passos e lá está ela. Uma laranja colocada como pelota em marca do penal. O andante se aproxima e apenas curte o saltitar da fruta percorrendo a via sem carros.
Ela insiste em caminhar mais alguns metros e se exibe novamente, quase pedindo. O chute desloca a fruta como uma pedra rolando de um penhasco, e perde-se de vista, talvez tenha passeado para o outro lado da pista, onde não me arriscaria. Mas não. 
No único carro estacionado ela namora de longe o tênis sujo que se aproxima, flexiona os gomos, segura as sementes e gol. Desta vez foi mais forte, e ela rola no centro da rua, sem vontade de parar. 
Como já estava sem uso nesta vida, sem compor nenhuma salada ou participar de um suco de frutas cítricas, viu seu destino ser mudado algumas vezes, e na sua doce (ou azeda) inconsciência de ser colheita da terra, alimento inerte, pôde fazer o que muitos que respiram e pensam não podem: sair do lugar, nem que fosse a pontapés. Saiu de seu fim da linha pra morrer podre como todas, porém longe, pois nem laranja no chão tem dia seguinte cravado.