terça-feira, 15 de outubro de 2013

Dialogando sobre o sono com Montaigne

*em itálico as passagens do filósofo francês retiradas de seus Ensaios.

Mistura de quietude e movimento. Paramos, não vemos e ignoramos. A mente funciona como uma indústria noturna, com nossas linhas de produção cerebral a pleno vapor. É isso, ambiguidade muda, silêncio onde nada para.
Por vezes os grandes personagens em seus mais importantes empreendimentos se conservam tão serenos que nem sequer perdem o sono.
Um estágio altamente necessário ao ser que insiste pensar. Coloca-se fatigado pelo estado de cansaço do plano físico e de alma, envolto de mistérios de por onde vamos e como retornamos, talvez sem tantos mistérios para os estudiosos, mas pouco se pode saber do caminho individual do ser.
No dia da batalha que travou contra Dario, Alexandre, o Grande, dormiu tão profundamente e até já manhã alta, que, em sendo quase hora de combater. Parmênion foi obrigado a entrar-lhe no quarto a fim de acordá-lo.
As tribulações que nos mantém acesos se tornam um fardo muito mais pesado quando desaliviado pela ausência do desligamento nosso. É essencial quer deixemos de existir conscientemente por certo período.
Cabe aos médicos dizer-nos se o sono é tão necessário ao homem que sua vida dele dependa. Em apoio dessa asserção temos em Roma o caso de Perseu, rei da Macedônia, que fizeram morrer impedindo-o de dormir.
Pode-se aferir simbolicamente que desde que o universo assim existe o sono é típico das horas de trevas, sem luz, sem visão. O escuro do ambiente que cerca-nos se equivale ao escuro total do fechamento das pálpebras, cansadas de enxergar e ávidas pelo cessar momentâneo da mente. Mas nunca estamos de fato na completa escuridão.
Plínio relata casos de pessoas que viveram durante muito tempo sem dormir. Heródoto fala de povos que dormem a metade do ano e velam os outros seis meses. E os biógrafos de Epimênides contam que esse sábio dormiu durante cinquenta e sete anos seguidos.
Melhor do que dormir é estar plenamente convicto de suas ações e bêbedo pelo sono que consome.


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