sábado, 12 de outubro de 2013

Nós precisamos disto?

Uzupis, 1959. Antanas Sutkus


“O dia a dia é algo entediante [...] é universal, ele não se sujeita a ninguém [...] Frequentemente, o homem moderno não tem tempo para o dia a dia. Quando vemos a neve pela manhã, praguejamo-la por causar dificuldades nas estradas, mas nos esquecemos que a neve é branca e macia [...] Os supermercados tomaram os lugares das igrejas e dos museus. O lema principal é ‘trabalhar, comprar e morrer!’. Tal dia a dia também existe, e este é o modo injustiçado de vida. O dia a dia se perdeu entre chamadas telefônicas, reuniões importantes, informação eletrônica e escândalos políticos. Eu preciso disto?”.


Essa frase é do fotógrafo lituano Antanas Sutkus. Tive o privilégio de ir ver uma exposição de suas fotos no Museu Oscar Niemeyer em Curitiba, e além de imagens belíssimas essa frase me chamou bastante atenção. Na verdade ela não saiu da minha mente por muito tempo, quem sabe até os dias de hoje.
Tenho absoluta certeza de que não vou conseguir expressar exatamente o que desejo, mas, tentarei assim mesmo.
O que nos regula hoje são horários, prazos. Horário de ônibus, de metrô. Temos tempo estipulado para almoço, com hora para a saída e para o retorno, e você precisa ir esteja ou não com fome e retornar, esteja ou não disposto.
Prédios em ruínas, casas desabando, lugares cheios de coisas pra nos dizer são colocados ao chão para que alguma nova obra seja erguida, em prol da modernidade. Prédios com 300 apartamentos, guardando 300 famílias em gaiolas em terrenos onde antes jazia uma casa grande, de quintal denso, e crianças brincavam de floresta mágica.
A vida realmente se resume em trabalhar, comprar e morrer. Quando você se desvia desse rumo é chamado de louco, de inconsequente. Viver sem computador do ano, sem telefone que é também GPS, leitor de livro, reprodutor de vídeo hoje é um risco. Nossos pais sobreviveram sem isso, e foram felizes, muitos se mantém saudáveis virando a cara para tanta coisa necessariamente inútil.
Nos faz falta a simplicidade de um caderno de receitas todo escrito a mão, de recados na geladeira, de carregar um livro pesado pra onde formos, de crianças modelando massinhas ao invés de mouses.
Estamos todos cansados de tanta informação. Não existe necessidade de sabermos tudo. A felicidade se condiciona a detalhes tão menores do que saber tanto a todo tempo. Parece que nos esquecemos de que essa vida que temos não é infinita.
Que a estabilidade financeira seja apenas um padrão onde possamos viver nesse mundo tão predador. Que conforto signifique coração livre e sucesso seja sinônimo de fazer pessoas a nossa volta felizes. Que se propague o amor e a bondade.




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