sábado, 18 de janeiro de 2014

Sóis chuvas & Romas

Eu não nasci em Roma. Tenho documentos que comprovam. Dizem que a morte é a única certeza da vida. Mentira. Eu não nasci em Roma. É bom começar o dia assim, quebrando uma verdade inquestionável. Mas, eu nem iria escrever sobre isso. Mas saiu.
Pequenos passeios nas tardes de meados de semana. Sol quente, ar fervente. Carros se atropelam e se batem pra decidir quem é mais rápido,
melhor e mais macho. Vendedores de caldo de cana, com vários sabores. Meu preferido é o de limão. As barracas de churros ainda não abriram. Se estivesse frio estariam abertas com o doce inserido no centro da crosta crocante. Sorveterias servem sorvetes, daqueles gelados. Pessoas quase nuas e com banhos vencidos fazem filas com suas casquinhas. Águas engarrafadas escoam como bala de troco. Agora os mercados tiram os bebedouros de suas entradas pra poderem vender as garrafinhas no verão. Aumentam as vendas e a insatisfação do cliente fiel. "Hey, havia um bebedouro aqui". - "O gerente mandou tirar, dona". Se fosse inverno, sorveterias teriam menos sorvetes e mais fondues, caldos, sopas. O que está no céu pode dizer o que você quer comer.
Quando chove, a rua fica sem dono. Ninguém quer se exibir, se ostentar. Todo mundo acaba ficando molhado e a propaganda não é a melhor. Pontos de ônibus e marquises furadas se tornam o que existe de mais confortável perante a água que desaba.  Os carros seguem interrompendo enxurradas e molhando pedestres que desafiam o asfalto cheio de corrimentos pluviais e pneus escorregadios. É quase uma roleta russa onde ou você molha ou morre. Quem não se importa são os cachorros, que naturalmente cheiram cachorro molhado. Estão em casa.
Mas é sério quando eu digo que não nasci em Roma. Nasci nas Minas, onde não tem coliseu mas tem quiabo com frango. Não tem piazzas mas tem praça bonita com coreto. Pipoqueiro e bancos pra sentar. Não tem as luzes de Roma, os bares, pizzas e aquele ar milenar que adormece na cidade eterna. Cada lugar tem sua beleza e sua identidade que passa a ser nossa quando vemos e nos apaixonamos. Não sei até que ponto carregamos conosco o que somos. Talvez sempre, talvez nunca. Quem nasce em Estocolmo e vai embora no dia seguinte pra Colômbia só é sueco no papel. Vai carregar consigo um nome estrangeiro e uma cultura que vive sem ter nascido no seu centro. Somos reflexos de onde somos e de nossa rotina.
Seja no calor, no frio ou em Roma. Seja onde for.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Maratona literária

13 a 19 de janeiro.

1) Vozes anoitecidas (Mia Couto)
2) O clube do livro do fim da vida (Will Schwalbe)
3) Cartas na rua (Bukowski)
4) Satori em Paris (Kerouac)
5) As cidades invisíveis (Italo Calvino)

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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A virada

As dezenas dos dias não deixaram de contar. Foram passando como os ponteiros lentos de um relógio quebrado. Mesmo assim, voaram como o tempo faz. Vieram as festas, as comemorações. Livros, presunto defumado, sobremesa festiva e reunião familiar. O contexto demarcado não se inverte, e nem deve.
Fim de ano é o período que chega rápido e passa rápido. Os presentes a comprar, as metas a cumprir antes da contagem regressiva que tudo encerra. Ao meio caminho nos desligamos das migalhas dos dias e nos concentramos nos quase quatrocentos por vir. Abdicamos dos fins de dezembro em nome do janeiro vindouro.
É tempo de pensar se o ano valeu a pena, se desperdiçamos tudo, se fizemos algo realmente bom. Anotarmos no bloco mental o que deu errado e tentar realinhar os campos magnéticos e tentar fazer dar certo agora que tudo zera. Zera em partes.
O primeiro de janeiro é como uma segunda-feira mais importante. Ali começam as dietas, os compromissos de ser uma pessoa melhor, passa a valer a conta da academia. Nos enchemos de ânimo de uma terça para uma quarta, mesmo tendo centenas de terças tão comuns e perdidas por vir. Somos condicionados a sermos melhores porque tudo, de algum modo, começa de novo.
A agenda foi comprada. Esse ano não vou esquecer nenhum aniversário. Vou colocar as contas ali, anotar os telefones de pessoas importantes que preciso manter contato antes que seja tarde. Vou tirar carteira, estudar direito para um concurso, ler mais, assistir filmes, ser pai/filho/marido melhor.
Não deixamos de ser o que somos só porque a terra finalizou um ciclo. Somos os mesmos. A diferença é que, assim como uma segunda-feira qualquer, o dia que nasce é a mesma oportunidade de realmente mudar alguma coisa. Não precisamos nos transformar no primeiro de janeiro. Precisamos nos transformar aos poucos, sem data prevista, pois a vida é repartida burocraticamente em anos mas não deixa de ser a mesma. Se eu for um cretino em 2014 e resolver ser alguém de caráter no ano seguinte, em 2015 vão continuar a se lembrar que sou um cretino.
Mas, nada contra quem resolva ser melhor depois de 31 de dezembro. Não tem data certa pra isso, o mais importante é que aconteça, seja quando for. Pois o minuto seguinte já é oportunidade suficiente para sermos melhores.