quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A virada

As dezenas dos dias não deixaram de contar. Foram passando como os ponteiros lentos de um relógio quebrado. Mesmo assim, voaram como o tempo faz. Vieram as festas, as comemorações. Livros, presunto defumado, sobremesa festiva e reunião familiar. O contexto demarcado não se inverte, e nem deve.
Fim de ano é o período que chega rápido e passa rápido. Os presentes a comprar, as metas a cumprir antes da contagem regressiva que tudo encerra. Ao meio caminho nos desligamos das migalhas dos dias e nos concentramos nos quase quatrocentos por vir. Abdicamos dos fins de dezembro em nome do janeiro vindouro.
É tempo de pensar se o ano valeu a pena, se desperdiçamos tudo, se fizemos algo realmente bom. Anotarmos no bloco mental o que deu errado e tentar realinhar os campos magnéticos e tentar fazer dar certo agora que tudo zera. Zera em partes.
O primeiro de janeiro é como uma segunda-feira mais importante. Ali começam as dietas, os compromissos de ser uma pessoa melhor, passa a valer a conta da academia. Nos enchemos de ânimo de uma terça para uma quarta, mesmo tendo centenas de terças tão comuns e perdidas por vir. Somos condicionados a sermos melhores porque tudo, de algum modo, começa de novo.
A agenda foi comprada. Esse ano não vou esquecer nenhum aniversário. Vou colocar as contas ali, anotar os telefones de pessoas importantes que preciso manter contato antes que seja tarde. Vou tirar carteira, estudar direito para um concurso, ler mais, assistir filmes, ser pai/filho/marido melhor.
Não deixamos de ser o que somos só porque a terra finalizou um ciclo. Somos os mesmos. A diferença é que, assim como uma segunda-feira qualquer, o dia que nasce é a mesma oportunidade de realmente mudar alguma coisa. Não precisamos nos transformar no primeiro de janeiro. Precisamos nos transformar aos poucos, sem data prevista, pois a vida é repartida burocraticamente em anos mas não deixa de ser a mesma. Se eu for um cretino em 2014 e resolver ser alguém de caráter no ano seguinte, em 2015 vão continuar a se lembrar que sou um cretino.
Mas, nada contra quem resolva ser melhor depois de 31 de dezembro. Não tem data certa pra isso, o mais importante é que aconteça, seja quando for. Pois o minuto seguinte já é oportunidade suficiente para sermos melhores.

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