terça-feira, 17 de setembro de 2013

As janelas

Por detrás das janelas sempre há vida olhando pra vidas ou para o nada. Este era um trecho bem interessante que tinha lido em um livro emprestado na biblioteca. E onde toda rotina como de qualquer pessoa convencional começa, em uma manhã.
Desperta os tiques do relógio velho que encerra o sono leve, e abre-se os olhos para um inquestionável inédito dia. Senta, reclama, e abre a janela. Nem sol, nem perspectiva de ver água jorrar das nuvens. Se apronta e se vai. Na sala do trabalho já sabe que o sol incomoda quando reflete nas vidraças do edifício da frente, e deixa a fresta de sempre para entrar o ar e os sons esbaforidos dos carros que se engolem lá fora.
Restaurante, meio dia, fome. Janelas de madeira (que sonha ter em casa um dia) ficam abertas para poder ver as pessoas passando para lá e para cá. Bloco na mesa, mancha de molho do macarrão que caiu sobre o lembrete de ter que devolver o livro ainda hoje.
Volta e trabalha, para e se despede. Vai ao banheiro onde um projeto de janela se dispõe no alto, e do outro lado o fosso do elevador. Depois do medo, vai.
Taxi. Janelas fechadas, começa a chover.
Na biblioteca sempre promete devolver e não pegar outro livro pois precisa estudar para as provas do bimestre. Sempre falha. No corredor de contos estrangeiros tomba a cabeça para olhar os títulos. Pega um, abre, e lê:
" Foi quando Henry se despediu de verdade, ao olhar pelos vidros traseiros do carro enquanto sua mãe acenava triste e orgulhosa da janela, sabendo que o filho agora veria o mundo."
Olhou para a janela enorme que findava o corredor e viu a chuva cair e as gotas correrem pelo vidro. As imagens distorcidas pela água lhe fascinavam.
Levou o livro.
Resolveu faltar as aulas para ler.
Em casa chegou e se entregou ao sofá, lendo sobre o menino que desertava da humildade de sua família rumo aos desatinos do mundo. Leu, releu e adormeceu. Depois acordou, preparou chá e foi para o quarto telefonar. Ninguém atendeu.
Abre a janela sobre a cama, sente o vento frio cortar e fecha de novo.
De repente cerrou os olhos e abriu novamente. Os olhos são as nossas janelas, pensou.
E com todas janelas fechadas se desligou, com as cortinas negras escondendo por horas o que vai nos obrigar a ver ao nascer do sol.

Um comentário:

Aninha disse...

Eu também sempre prometo à mim mesma que vou estudar os textos dados pelos professores na faculdade e acabo começando a ler um livro sobre outro assunto...
A faculdade atrapalha meus estudos! hahah