sábado, 3 de dezembro de 2016

Um homem: o caos no fim da rua

Claude Benuto mora na casa de madeira no fim da rua. Depois dele só existe o mato e o medo.
Cercada de arbustos descoordenados, folhas secas e restos de tudo, seu canto provoca pavor e uma sensação de conforto. Ele não se importa com o que dizem dele. Desde quando está sozinho cuida de cada detalhe para que o pequeno universo de caos onde vive seja o espelho do que ele é. Se está uma bagunça por dentro por que ajeitar tudo por fora?


Ás vezes, Claude deixa sua casa e caminha pela cidade, vai até a venda de Morfort e se tem gente demais esperando pra comprar vai para detrás do balcão e começa a atender. Morfort não se importa, Claude faz isso desde muito tempo, e ele não se importa. Quando a fila acaba, ele pega uma peça de carne, dois pães e alguns saquinhos de tempero. Deixa o dinheiro sobre a mesa, murmura alguma despedida inaudível e sai.


Todos os dias Claude vai até a casa do falecido Dooney e alimenta seu cachorro Wally. Ele já tentou levar o cão duas vezes para sua casa, mas basta madrugar para o bicho ir embora de volta para sua surrada casinha de madeira no quintal abandonado. Ele respeita o animal, todos tem o seu lugar.
Claude Benuto gosta de viver onde vive, ele está no seu lugar. Os mais jovens anseiam deixar a vila, ir para a cidade grande. Ele não os culpa. Dentro dele quase sempre está uma bagunça como um centro movimentado da capital, e deve ser por isso que ele precisa ser o caos dentro de um lugar tranquilo.
No fim da rua, Claude Benuto se equilibra.

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