domingo, 26 de junho de 2016

Monólogo do velho de férias

São as férias, por favor. Me ajude. Droga, a câmera caiu e eu espero que não tenha quebrado nada pois eu paguei bem caro por essa coisa.
Sim, sim, podemos ir depois até aquela sorveteria, mas agora vamos tirar aquela foto. Desça as escadas, mas vá devagar, choveu esta manhã.
Veja se não está molhado e sente-se aí. Olhe aqui pra cima. Tente não olhar direto para o sol então, oras, mas por Deus nem tem sol direito ainda.
Quer fazer alguma pose diferente? Eu não sei, o que você quiser, ninguém vai reparar em você mesmo com um chafariz desse tamanho logo atrás então pare de se preocupar.
Estão ficando boas, então vamos. Ah, ok, se quer uma de pé tudo bem, olhe para cá. Sempre no ponto vermelho.
Vamos, vamos.

Já tem um tempo que não tomo sorvete, sabia? Meus dentes doem como o diabo, prefiro ficar no café mesmo.
Quer revelar as fotos agora ou depois?
Mas o que tem de tão importante assim naquele lugar? Tudo bem, vamos ver esse tal museu.
Eu realmente não entendo o que pode haver de tão interessante aqui para o infeliz da portaria me cobrar 6 moedas, mas vamos, suba logo essas escadas velhas.
Jesus, essa coisa deve ter um milhão de anos. Como ainda não virou poeira? Está vendo quando digo que as coisas hoje são feitas para não durar, eu não disse? Falei para sua mãe quando quis comprar aquela secadora nova cheia de funções e botões que soam como zeros no meu cheque.
Venha ver isso, estes jornais. Veja o tamanho desses artigos, Jesus. E parecem ser interessantes. Ontem eu comprei um jornal em que a melhor parte dele era uma terceira colocada de algum concurso de canto que estava de biquíni e provavelmente tinha traído o namorado, que curiosamente foi o segundo colocado da mesma droga de concurso.
Já olhou pela janela? Está ficando escuro lá fora, pegue sua capa e vamos dar o fora daqui.

Acha que conseguimos um táxi aqui nesse buraco?
Pra mim, só um espresso médio, e certifique de que venha com aquele cookie que acaba em uma mordida. Se vão me roubar que me roubem direito.
Como você consegue beber algo que tenha mais de 3 ingredientes? Que cheiro é esse, isso é álcool? Meu Deus, não poupam nem uma cafeteria mais.
Você ficaria chateada se eu fosse ver o final da partida ali na tv? Sei que não, pois não precisaria conversar comigo e pode mexer a vontade no seu celular.
É incrível a minha capacidade de ver os finais das partidas e meu time levar gols. Quando será que eu peguei isso?

Tome a chave do seu quarto, querida. Foi tão aborrecido quanto pensou que seria?
Oh, sei que só diz isso pra fazer seu velho avô se sentir bem.
Vá dormir, ou ficar com a cara enfiada no celular, faça o que quiser. Eu vou ler e ligar para sua vó e tentar me lembrar de esquecer que você bebeu um café com aquela coisa hoje.
Durma bem, querida.
Amanhã vamos caminhar mais, conhecer mais cantos por aí, e me lembre de comprar uma capa nova, a minha já não me protege nem da neblina.
E quanta neblina. Quanta.

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